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quinta-feira, 18 de março de 2010

Aranhas sob comando

Duas novas espécies de vespas que parasitam aranhas são registradas na região Sudeste do Brasil. Os insetos liberam substâncias que paralisam a hospedeira e fazem com que ela construa sua teia de forma a protegê-los.

Por: Raquel Oliveira


Uma vespa da espécie ‘Hymenoepimecis veranii’ pousa na teia de uma aranha e aguarda a saída do aracnídeo de seu abrigo para atacá-lo, imobilizá-lo e depositar um ovo em seu abdome (foto: Jober F. Sobczak).

O comportamento de duas novas espécies de vespas parasitas foi registrado por pesquisadores brasileiros. Os cientistas descreveram a relação que esses animais mantêm com suas hospedeiras, as aranhas, em artigo publicado recentemente no Journal of Natural History. Segundo eles, o mecanismo de dominação usado pelas vespas sugere uma ‘parceria’ aperfeiçoada ao longo de um período evolutivo extenso.

As vespas observadas pertencem às espécies Hymenoepimecis japi e Hymenoepimecis sooretama. Elas foram vistas parasitando, respectivamente, as aranhas das espécies Leucage roseosignata e Manogea porracea. Outras relações de parasitismo entre vespas e aranhas já foram verificadas anteriormente. O estudo foi feito na Reserva Florestal da Companhia Vale, em Sooretama (Espírito Santo), e na Reserva Ecológica da Serra do Japi, em Jundiaí (São Paulo).

O mecanismo de dominação usado pelas vespas sugere uma ‘parceria’ aperfeiçoada ao longo de um período evolutivo extenso

Segundo um dos autores do artigo, o biólogo Jober Fernando Sobczak, da Universidade Federal de São Carlos e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera Parasitoides da Região Sudeste Brasileira, as vespas analisadas atacam apenas um tipo de aranha. “Acredito que seja um processo bastante específico”, defende em entrevista à CH On-line.

Larva da vespa 'Hymenoepimecis veranii' no abdome de uma aranha (foto: Jober F. Sobczak).

A serviço das vespas

A partir de então, a aranha torna-se uma espécie de escrava da vespa e trabalha para o bem-estar dela. A teia é construída de forma diferente: em vez de uma espiral plana com múltiplos fios em sentidos diferentes, a estrutura passa a ser uma espécie de envoltório, com fios concentrados e poucos eixos definidos.

A ideia é que o novo desenho da teia proteja e sustente melhor o casulo da vespa. “Na teoria, ela é mais resistente que a original, pois reúne vários fios em um só”, explica Sobczak. “A teia modificada resiste bem ao peso do casulo e à chuva”, diz. Terminada a construção, a aranha, que já parara de se alimentar dois dias antes, morre e serve de alimento para a larva, que então constrói seu casulo. Depois, a vespa adulta eclode e abandona o casulo.
Uma interação semelhante entre a vespa Hymenoepimecis veranii e a aranha Araneus omnicolor já havia sido descrita pelos pesquisadores em artigo publicado em 2007 na revista Naturwissenschaften. Nessa relação, a teia construída pelas aranhas parasitadas também se torna muito diferente da produzida pelas não parasitadas.

À esquerda, teia normal feita por uma aranha da espécie 'Araneus omnicolor'. À direita, após construir a teia modificada que irá proteger o casulo da vespa, o aracnídeo parasitado é consumido pela larva dentro da folha usada como abrigo (fotos: Marcelo de Oliveira Gonzaga e Jober F. Sobczak).
Parasitismo refinado

As etapas da relação entre o hospedeiro e a vespa parasita são bastante precisas. A quantidade das substâncias químicas injetadas na aranha para imobilizá-la e alterar seu padrão de construção da teia parece ser cuidadosamente medida. “Por isso, acredito que esses animais passaram por um processo de coevolução bastante requintado”, justifica Sobczak.

O parasitismo pode ocorrer tanto em aranhas fêmeas quanto em machos. Mas, como os machos têm pouca biomassa – o que significa menos alimento para a larva – e seu ciclo de vida é mais curto, eles não são atacados com tanta frequência. As vespas estudadas preferem as fêmeas de tamanho intermediário, mais facilmente dominadas do que as grandes.

A quantidade das substâncias químicas injetadas na aranha parece ser cuidadosamente medida

Sobczak acrescenta que ainda é necessário mais pesquisa sobre os padrões de parasitismo em outras espécies de vespa do gênero Hymenoepimecis. Os pesquisadores querem comparar as características das teias de outros hospedeiros e saber se a mudança no desenho delas é um padrão difundido dentro do grupo. “Pretendemos também investigar quais são as substâncias presentes no veneno usado pela vespa para imobilizar a aranha e as substâncias injetadas pela larva para modificar o comportamento de construção da teia”, completa.

Raquel Oliveira

fonte: Ciência Hoje On-line




VINI CHRIST

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