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quarta-feira, 31 de março de 2021

Ecdise, autotomia e regeneração.

Por Adalberto Peixoto:  

Falar um pouco desses três processos de uma forma um pouco mais detalhada.

Ecdise - todo mundo sabe que esse é o nome do processo que se dá a troca de pele do animal, em tempo, aracnídeos não são os únicos animais que fazem ecdise, porém, a explicação abaixo é referente somente a eles.

A troca de pele, na verdade, acontece em dois momentos, o primeiro se chama apolysis (não achei termo pra tradução) e nele acontece a separação da antiga cutícula das células hipodérmicas. Depois acontece a ecdise, que é quando acontece a troca de toda a exuvia. O processo de apolysis acontece cerda de uma semana antes da ecdise.  

A ecdise tem inicio por conta de um hormônio chamado ecdisona. Pouco se sabe sobre a produção desse hormônio, acredita-se que ele seja secretado por uma glândula encontrada no prossoma. O que se sabe é que foi observado um aumento do hormônio ecdisona na hemolinfa, durante o processo de ecdise, a hemolinfa, alias, tem um papel importante também regulando a quantidade e absorção de água durante o processo através de células especializadas.

Entre o epitélio e a cutícula, existe um espaço chamado de “espaço exuvial”, basicamente, ele fica entre a pele nova (que está se formando) e a antiga (que será formada). Nele, há uma camada chamada de endocuticula que é digerida por enzimas (quitinases e proteases) secretadas pelas células da epiderme, todos os componentes que são dissolvidos por essas enzimas são reabsovidos, sendo que a caranga perde muito pouco material durante o processo. 

Mais ou menos uns 5 dias antes da aranha fazer a troca, as células da hipoderme secretam a primeira camada da nova cutícula, chamada de cuticulina, é depois disso que as enzimas secretadas começam a digerir a endocuticula, uma vez que a nova camada já está protegida. Após a digestão quase completa da endocuticula, é que se da inicio o processo de ecdise. 

Semanas após a troca, o exoesquele cresce e endurece consideravelmente, enquanto uma nova camada de endocuticula se forma internamente. No processo até a próxima ecdise, novas camadas da cutícula interna são formadas, e enzimas são secretadas, preparando o animal para a próxima troca, e assim, sucessivamente.

Resumão:

1 – Celulas da hipoderme são ativadas

2 – Secrecao do fluido exuvial e processo de apolysis

3 – Secreçao da primeira camada da nova cutícula 

4 – Ativacao das enzimas do fluido exuvial e digestão da endocuticula

5 – Absorcao do material digerido

6 – Secrecao de outra camada de cutícula

7 – Processo de ecdise

8 – A nova cutícula se espalha

9 – O exoesqueleto fica esclerotizado

Curiosidades: O hormônio 20E (20-hidroxi-ecdisona) parece influenciar no canibalismo das aranhas. Foi observado que fêmeas do gênero Tegeneria estavam níveis maiores de 20E durante o processo de copula, e foram mais receptivas com os machos. Em encontros posteriores, quando houve baixa desse hormônio, elas demonstraram uma taxa de 40% de canibalismo. Após uma injeção artificial de 20E nas fêmeas, NENHUM canibalismo foi registrado.

OBS: Sei que o processo pode ser confuso, portanto, fiquem a vontade pra perguntar.

Autotomia – Aranhas podem “destacar” alguns membros, em caso de fuga ou perigo iminente. A esse processo, se da o nome de autotomia e, assim como a ecdise, outros animais também pode realiza-lo. É importante ressaltar que esse processo é voluntário, foi observado que aranhas anestesiadas não conseguem realiza-lo. 

Antes de explicar o processo, vamos relembrar as divisões das pernas, do corpo pra ponta:

Coxa, trocanter, fêmur, patela, tíbia, metatarso, tarso.

Geralmente, a autotomia acontece entre a coxa e o trocanter, e raramente entre a patela e a tíbia. O processo acontece com o fêmur funcionando como uma braçadeira, enquanto a aranha empurra a coxa pra cima, como se fosse um espasmo. Nesse momento, o trocanter se inclina bruscamente, formando uma tensão com a coxa, o que gera a ruptura dorsal de uma membrana que se encontra na articulação. O local onde a amputação ocorre tem apenas um músculo, que rapidamente se “destaca” e se recolhe pro interior cavidade da coxa. Os outros músculos, chamados de esclerites, se situam nas periferias da membrana da articulação rompida e agem como uma espécie de válvula, ou seja, eles rapidamente fecham a ferida de dentro para fora. Esse processo, aliado ao fluxo de hemolinfa que força essa “tampa”, ajuda a selar o local, evitando que a aranha “sangre”. 

Curiosidades: Quando picadas por uma vespa na perna, aranhas podem realizar autotomia e fugir, antes que o veneno da vespa se espalhe pela perna até seu corpo. Ou, elas podem deixar um membro pra um escorpião comer enquanto fogem. Tambem foi observado que, aranhas de teia orbicular com 3, ou até 4 pernas a menos, conseguiam tecer suas teias de forma regular, sem grandes problemas.

Regeneração – Aranhas podem regenerar boa parte do que dos membros perdidos, quando não realizam autotomia, o membro novo é gerado no local onde a amputação foi realizada. Pouco se sabe sobre o processo de regeneração a nível celular, o que se sabe é que a formação  da nova perna é comparável com a que é vista durante a ontogenia, além disso, também sabe-se que é um processo realizado por controle hormonal. 

Em caso de autotomia, a nova perna será gerada dentro do espaço da coxa, e esse é o motivo do porque a nova perna geralmente é menor, o espaço que ela tem pra crescer. Alem disso, quanto mais longe de uma ecdise ela fizer autotomia, maior será o membro regenerado, ou seja, há chances dela não regenerar nada se estiver muito próximo de uma troca. Por ultimo, diferente de caranguejeiras, alguns grupos de aranhas não regeneram mais nenhum membro amputado depois de maturarem, isso porque elas não fazem mais ecdise após a maturidade sexual (ex: Phoneutria spp.).

O membros não são regenerados por partes, ainda que pareçam menores e mais finos, todas as estruturas e segmentos estão presentes no novo membro. O que pode acontecer são mudanças em estruturas sensoriais e nervosas, o que pode causar diferenças na movimentação do membro em questão ou até zero mobilidade. 

Curiosidades: Aranhas do gênero Latrodectus não conseguem regenerar a perna completamente se autotomizadas na articulação coxa-trocanter. Se uma aranha perde 3 ou 4 pernas, antes do processo de ecdise, elas serão todas regeneradas na próxima troca. Em um experimento, induziram uma aranha a perder as 8 pernas e a alimentaram artificialmente, todas as pernas voltaram depois da ecdise. 

Fonte: Biology of Spiders (Foelix) Physiology of Molting pgs. 277-281. Autotomy and Regeneration pgs. 281-285.

AHB está de volta ...


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